ANIMAIS TÊM CONSCIÊNCIA: TRATE-OS COMO IGUAIS!
Galinhas sentem empatia. Elefantes ficam
deprimidos. Raposas vermelhas sentem a falta dos amigos. E todos sentem dor.
Então qual é a diferença entre nós e eles?
Em julho deste ano, um grupo de cientistas reunidos
na Universidade de Cambridge proclamou que humanos não são os únicos seres
conscientes. “Animais não humanos como mamíferos e aves, e vários outros,
incluindo o polvo, também possuem as faculdades neurológicas que geram
consciência”, declarou o grupo, na chamada Declaração de Cambridge. Minha
primeira reação foi de total incredulidade. Nós realmente precisávamos de um
anúncio para definir algo tão óbvio?
Todo mundo sabe que os animais têm consciência.
Eles percebem e entendem seu entorno. E muitos, entre eles golfinhos, elefantes
e alguns pássaros, são inclusive autoconscientes. Eles possuem um certo senso
de si. Ok pode ser que um cachorro não saiba quem é do mesmo jeito que eu e
você sabemos quem somos. Mas o ponto é: mesmo que não saibam quem são, eles têm
consciência de sua própria dor. Foi o que aconteceu comigo quando tive um
acidente de bicicleta: bati a cabeça e tive amnésia. Quando o médico me
perguntou como me sentia, eu disse: “Estou sentindo muita dor”. E quando ele
perguntou quem eu era, respondi: “Não lembro meu nome.” Da mesma forma, é
errado fazer um animal sofrer só porque ele pode não saber quem é.
Os pesquisadores descobriram mais do que isso.
Sabemos, por exemplo, que ratos e galinhas sentem empatia. Eles conseguem se
colocar no lugar dos bichos ao redor e sentem pena ao vê-los sofrer. Elefantes
vivenciam alegria, luto e depressão. Lamentam a perda dos amigos, assim como os
cães, chimpanzés e raposas vermelhas. Os polvos foram protegidos de pesquisas
invasivas no Reino Unido bem antes dos chimpanzés, pois os cientistas já haviam
reconhecido que eles são conscientes e sentem dor. Hoje muita gente ainda não
quer admitir esses fatos científicos, pois terão de mudar a forma como tratam
os animais. Na verdade, temos de tratar todos os animais da mesma forma, com
compaixão e empatia – sejam eles os “animais humanos” como nós, sejam todas as
outras espécies. Não estou falando apenas dos abatedouros – embora seja óbvio
que, se houvessem mais vegetarianos no mundo, menos animais sofreriam.
Estima-se que 25 milhões de ratos, pássaros, peixes e outros animais sejam
usados todo ano em experimentos de laboratório. Muitos passam por um sofrimento
terrível durante os testes e a maioria sofre “eutanásia” – são mortos – depois.
As pessoas justificam atitudes assim dizendo que vão ajudar os humanos. No
entanto, mais de 90% das drogas que funcionam em animais não têm o mesmo efeito
em nós. Menos de 10% delas nos ajudam de fato. Além disso, já existem formas de
pesquisa que não maltratam os animais. Em lugar de gotejar xampu nos olhos de
coelhos imobilizados, por exemplo, podemos usar modelos de computador para
simular a ação do produto sem dano algum. Portanto, não se trata apenas de um
desperdício de animais; é um desperdício de tempo e dinheiro que poderiam ser
investidos em outras alternativas. Por isso, concluí que devemos aplaudir a
Declaração de Cambridge. Ela não traz nada de novo, mas mostra que cientistas
famosos finalmente admitem que animais têm consciência. A declaração é mais uma
prova de que devemos tratar os animais com todo o respeito. E reconhecer que
eles não querem sentir dor, do mesmo jeito que nós não queremos. Seria perigoso
fazer esse tipo de distinção. Todos os animais devem ser tratados como
indivíduos. Ainda vai levar tempo para que isso aconteça. Mas a boa notícia é
que cada vez mais pessoas aderem a essa ideia.
Por Marc Bekoff é
professor de ecologia e biologia evolutiva na Universidade do Colorado, EUA. É
autor de O Manifesto dos Animais, entre outros livros. Em depoimento a Eduardo
Szklarz..

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