AS VÁRIAS FACES DE UM MULTIARTISTA
Muito além de um escultor. Muito além
de um pintor ou de um ceramista. De um desenhista, gravurista ou um poeta.
Abelardo da Hora, do alto dos seus 89 anos, continua sem descanso a produção
artística que o tornou conhecido no Brasil e no mundo. Diariamente se dedica à
criação artística em sua casa, que é uma verdadeira galeria de arte, com
dezenas de peças que fazem o visitante imergir no universo anguloso, sensual e
crítico da sua obra.
O
interesse por arte surgiu de forma inusitada, quando Abelardo tinha 12 anos.
Instigado pela mãe, que ansiava em ver os filhos formados e com uma profissão,
o então garoto, juntamente com o irmão mais novo Luciano, matriculou-se na
Escola Industrial Professor Agamemnon Magalhães, atual ETEPAM, que fica no
bairro da Encruzilhada. Por falta de vaga no curso de Técnico Mecânico, o
menino que era apaixonado por zeppelins e queria ser engenheiro mecânico
acompanhou o irmão no curso de
Artes Decorativas.
Pouco
tempo depois, já se destacava pelas esculturas que fazia. Um dia, durante uma
aula livre, o garoto franzino surpreendeu um dos professores ao esculpir dois
violeiros. O resultado foi uma bolsa de estudos na antiga Escola de Belas
Artes, extinta em 1976. "Tinha um dia da semana em que o professor dava um
dia de liberdade para os alunos para fazer qualquer coisa da sua imaginação.
Neste dia eu estava trabalhando e meu professor de pintura entrou e perguntou:
'Seu professor já mexeu na sua escultura?', eu: 'Ainda não', ele 'Pois você
acabou de ganhar uma bolsa de estudo para a Escola de Belas Artes, quando você
terminar aqui eu vou levar você'. E quando eu terminei o curso ele realmente me
levou", relembra. Na Escola de Belas Artes, a admiração dos professores
não foi diferente. Na aula de Desenho Figurado, em uma semana ele fez o
trabalho de um ano inteiro.
A
história de Abelardo da Hora é também a história do Brasil no século 20. Já
durante o período de estudo na Escola de Belas Artes, o
Artista se
confunde com o
Político. No último ano, ele
foi eleito Presidente do Diretório Estudantil. "Eu não me candidatei, mas
as moças da escola me candidataram na surdina. Foi um negócio principalmente
comandado por Rosa Soares, Ana Paz e Ana Galvão. Foi um trio desses
violentos mesmo, viu? Umas moças muito bonitas, interessantes. Resultado: eu
venci", brinca, com seu conhecido estilo galanteador.
Seu espírito revolucionário fez com
que fosse trabalhar como ceramista para o ex-chefe do seu pai, o industrial
Ricardo Brennand, pai do também artista plástico Francisco Brennand. Francisco
foi aluno de Abelardo, no tempo em que este morava no antigo Engenho São João
da Várzea. No áudio abaixo você pode conferir mais detalhes dessa história,
contada pelo próprio Abelardo.
A
primeira exposição de Abelardo da Hora aconteceu em abril de 1948, na
Associação dos Empregados do Comércio de Pernambuco, localizada na Rua da
Imperatriz, Centro do Recife. Devido ao cunho social empregado por ele nas
obras, assim como à própria efervescência política da época, a mostra teve uma
resposta bastante positiva. "A associação fica pertinho da Livraria
Imperatriz. Então foi uma coisa maravilhosa, porque ali era ponto de encontro
da intelectualidade. Os poetas, escritores, jornalistas, professores iam para
lá, comprar livros, conversar e passavam na minha exposição, que tomou um
impulso muito grande, teve uma divulgação maravilhosa", relembra o
artista. A principal peça da primeira exposição foi a A Fome e o Brado,
escultura que ele guarda com
carinho até hoje em casa.
Obras
Boa
parte das obras de arte de Abelardo da Hora pode ser encontrada na própria casa
do artista, que desde a sua entrada está completamente cheia de peças que
representam períodos da sua história. No mesmo endereço, na Rua do Sossego,
área central do Recife, fica o Instituto Abelardo da Hora, criado para divulgar
e manter o acervo do escultor, além de reviver a ideia do próprio Movimento de
Cultura Popular, uma vez que há planos de futuramente promover cursos e
exposições. Como tudo que rodeia Abelardo, o IAH também se confunde com a
família da Hora: filhos e netos são os fundadores e dirigentes do grupo.
Com
tantos trabalhos expostos pelas ruas da cidade, uma dúvida é recorrente:
quantas obras foram produzidas por Abelardo? O próprio não tem certeza:
"Ah, foram tantas, não tem como eu lembrar de todas". Já Abelardo da
Hora Filho, Diretor Executivo do IAH, arrisca um número encontrado através do
trabalho da Instituição: "Temos um levantamento de aproximadamente 1800
obras e a circulação delas em mais de 50 países, com menção especial à
iniciativa do Clube de Gravura de Porto Alegre que levou obras como O enterro
do camponês para vários países
da Europa, União Soviética e Mongólia, entre outros".
Com certeza esse número ainda pode
crescer muito, uma vez que Abelardo Germano da Hora está em plena atividade
artística. "Eu adoro trabalhar, minha arte me alegra muito",
finaliza.
Fonte: Site: Leiaja.com
“Faço arte para mim e para minha
gente. Acho que o grande apelo atual da humanidade é a paz, o entendimento, a
solidariedade e o amor enfim. Pretendo que a minha arte seja mais uma voz a
reforçar esse apelo.” (Abelardo da Hora).
Amigos,
Tenho a maior admiração pelo trabalho
e pelo artista que é Abelardo da Hora, a quem considero a mais importante
representação viva da arte pernambucana. Com uma arte politicamente engajada,
sua série de figuras flageladas é uma denúncia ao descaso do homem para com a
miséria. Agradeço de coração a esse talentoso e criativo artista por nos
agraciar com tão belíssima obra. Muito Obrigada! Muita Paz e Luz... Sempre!
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